Quantas saudades a vida nos traz. É inerente ao ser humano essa pontada gostosa chamada saudade.
Saudade tem sabor e cheiro.
Felizmente, não tenho saudades amargas como jiló. Todas as minhas, têm sabores especiais. Até mesmo as saudades de pessoas queridas que já passaram para outro plano. Como é o caso dos meus avós e minha mãe.
A saudade que sinto do meu avô, paterno, tem sabor de quero mais. Homem simples, do campo, porém, amante das letras. Por isso desenvolveu sabedoria que foi muito útil à sua vida e a dos outros. Pois, onde morava, era o sábio do lugarejo. Era convidado para usar os seus conhecimentos até quando alguém estava preste a morrer. Já a saudade da minha avó, paterna, é, talvez, a mais doce. Pela sua ternura e carinho comigo. A, do meu avô materno, tem um gosto acentuado, forte. Homem trabalhador, incansável. Posso até dizer que a saudade que sinto dele tem gosto de ferro, encontrado no grão de feijão. Já da minha vovozinha, materna, sinto saudade perfumada: mulher vaidosa, bonita. Sempre cheirando a sabonete alma de flores e colônia Charisma. Posso estar em qualquer lugar, sentindo essas fragrâncias, volto no tempo e reencontro-a. E, da minha mãe sinto uma saudade com gosto consistente: mulher guerreira, determinada.
Todos já se foram, mas deixaram cravados em mim, suas marcas. E, não me queixo a Deus, por tê-los levado. Nem mesmo por minha mãe ter ido tão cedo. Porque acredito que, como temos de dia de chegada, temos também o da partida. Creio ser a morte uma passagem para um outro plano. O qual, espero eu demorar muito tempo pra pisá-lo.
Além das saudades de pessoas, sinto também saudades de coisas que marcaram minha vida. Como sou filha única e morava em sítio, sempre usei as asas da imaginação para fazer longas viagens. Especialmente, quando subia, no lombo, do meu amigo juazeiro - planta ramnácea brasileira – do nordeste.
No quintal, aberto, de minha casa, com braços fortes e verdejantes, descansava um velho juazeiro. Junto a ele, havia uma linha grossa - de carnaúba – que se estendia do chão aos seus grossos galhos. Minha escada preferida! Incontáveis foram as vezes que subi e desci, escalando meu amigo frondoso. Bastava a emoção querer despontar as asas, que, lá estava eu, entre as folhas companheiras. E, se fazia uma peraltice que zangava a minha mãe, escalava-o tão rápido, evitando assim uma sova. E lá, ficava esperando sua raiva passar para eu poder aterrissar.
Quantas viagens fiz, na copa daquele meu amigo imaginário. Personagem importante no mundo infantil. Que, de acordo com a Psicologia, os amigos imaginários podem surgir de dois modos: amigos invisíveis (que ninguém pode ver) e, objetos personificados (com os quais a criança interage como se fossem humanos). Um amigo imaginário pode ser qualquer coisa, e até não ser nada de concreto - simplesmente estar ali, para a criança e os personificados são aqueles que geralmente falamos que são os “anjinhos”, protetores da criança. Não importa aqui as explicações místicas, religiosas ou metafísicas para estas relações infantis, manteremos o foco é no respeito e na maneira com que esta criança se relaciona e interage com o amigo imaginário e o que está conversando com ele: são aspectos saudáveis ou são aspectos que estão adoecendo a criança? Está afastando-a da realidade? Está colocando-a em risco? etc. Estes dados que precisam ser observados e considerados pelos pais para depois tomarem alguma atitude, se for necessário. Na verdade estas estão na fase do faz de conta. Fase que pode ocorrer, aproximadamente, entre os 3 a 6 anos de idade.
Os pais, inicialmente, não devem dar muita importância a este acontecimento. Entretanto, se ele persistir até à pré-adolescência então, nesse caso, é interessante consultar um profissional de saúde.
Hoje fico imaginando quem são os amigos imaginários das crianças contemporâneas: computador, vídeo games. Máquinas que já trazem as respostas prontas, acabadas. E, na velocidade que atuam, como a criança vai ter tempo de processar essas informações; imaginar; reconstruir; viajar na criatividade?
Que saudades meu velho e querido juazeiro. Que saudades de minha infância saudável em chão de terra: torrão nordestino. Longe do concreto empilhado, sem ruas pintadas de asfalto, longe da prisão em grades, feito pássaro emgaiolados e sem espaços limitados por lnhas de concreto.
0 comentários:
Postar um comentário