TRAVADA PELA SAUDADE
Bem sei que nos últimos meses ando meio parada. Tão quieta no meu canto. Pareço até estar escondendo-me de mim. Se é que isso pode acontecer – esconder-se de si mesmo – para não ver ou sentir o que se passa ao redor.
Mas não precisei de esforço algum para me dar essa resposta. Na verdade estou travada. Travada pela saudade que sinto de você. Sinto falta do riso em teu olhar, do beijo que me serve de combustível, do toque de tuas mãos dedilhando meu corpo. Este tão acostumado às suas carícias, que, por não tê-las, está esquecendo do sol que brilha lá fora, enquanto permaneço no escuro do meu ser vazio. Vazio de você.
Estou vivendo apenas de recordações de nós dois. Chego até a sentir o calor de nossos corpos suados de prazer, o gosto dos beijos molhados, apaixonados. Passa em minha tela do pensar o filme de uma história longa e bela que não teve a pretensão de acontecer. Mas aconteceu! Porque coração é chão que não se pisa. Portanto, não temos nenhum controle sobre ele. O que nele acontece vai muito além da razão. Pois é impossível trilhar caminhos da razão quando surge tão forte uma emoção, capaz de nos fazer flutuar com os pés no chão. Emoção que te faz rir sem um motivo aparente. Mas você rir de felicidade e de si mesmo. Vendo-se como uma adolescente que conheceu o seu primeiro amor e deixou-se roubar o seu primeiro beijo tímido. Mas sabendo que muitos outros viriam e todo seu corpo pedia por isso. Enquanto sua alma enchia-se de encantamento que escorria pelo seu olhar brilhante.
E vieram outros tantos encontros. Cada um mais especial que o outro. Encontros cheios de risos, encanto, amor... Fazendo a vida se encher de cor.
As cores persistem a cada novo amanhecer, mas a saudade se faz tão forte que trava um coração apaixonado, que almeja dividir cada segundo respirado num mesmo espaço. Porém este espaço vai se espaçando, sendo preenchido por um rio de saudades que sangra de um coração apertado sem forças para obstruir esta sangria.
E, assim a vida passa. Corre tão ligeira que muitas vezes perdemos suas rédeas e quando as encontramos, tentamos afixá-las nas mãos, como se assim o tempo amenizasse um pouco a sua carreira e possamos destravar o coração num abraço apertado, que a vida nos deve.
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