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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

OS (DES)ENCONTROS DA VIDA

OS (DES)ENCONTROS DA VIDA
A vida é arteira, anda por caminhos sinuosos, ora faz encaixes, noutras desencaixes. E segue, emaranhando sua teia estendida da vivência. Nisto, os anos esvoaçam perfumados, mas nem sempre floridos. O fato é que se estendem, trazendo experiências, as quais regam nossa espiritualidade.
É neste entremeio, que as relações humanas acontecem. Muitas vezes não polvilhadas de afeto, como se deseja. Mas caminham lado a lado, sem mãos dadas.
Sou filha única, última vinga de uma sequência de três anjinhos que foram para o céu, vitimados pela ignorância de meus pais, analfabetos, também vítimas de um sistema social desumano que perdura, até os dias de hoje, onde impera o ter, o ser é descartável. Portanto, nascer pobre, no Brasil, é um pecado, cuja paga é o sofrimento no berço esplêndido da falta de conhecimento dos seus direitos. Muito embora, de quatro em quatro anos, os pobres são beijados, abraçados, vistos como gente importante – que é o que realmente são – pelos políticos, descarados que objetivam ludibriá-los na conquista de seu voto. E o pior, muitos ainda se deixam levar, uma vez que são ingênuos demais, e chegam até a se sentirem importantes, no período eleitoreiro, por ter sido visitado por uma autoridade. Pobre humanidade, miseráveis seres enganadores, os políticos. Entretanto, não generalizo, no meio de tantos corruptos, há uma meia dúzia que honra o seu cargo público, trabalhando em prol da população, que é para isso que os elegemos.
Mas o fato é que quero espremer, no papel, a questão afetiva nas relações familiares, que, por natureza, deveria unir, às vezes distancia por inúmeras razões: conflito de gerações, ignorância, doenças...
Neste aspecto tenho experiência de sobra, muito embora preferisse não ter. Mas, na vida, aprendi que nada acontece como, nem quando eu quero. Tudo é como e no tempo de Deus! Interessante é que, durante muito tempo, procurei respostas para minhas inquietações na igreja. Nada encontrei. Mas, hoje, percebo que espiritualidade é algo muito particular: está em você.
 
Mas voltando a questão da afetividade, que é o foco deste texto, conforme citado acima, sou filha única, minha mãe faleceu muito jovem – aos 42 anos – e ficamos eu e meu pai. Logo em seguida, casei, tive dois filhos, hoje uma com 24 e outro com 21 anos. Enfim, durante a vida toda moro com meu pai, mais precisamente, há 46 anos. Sendo minha família composta por meu esposo, filhos e ele.
Não tem sido fácil essa convivência, pois o meu pai sempre foi muito arredio, além de ser o sabe tudo. E eu, filha mais nova, não podia ir contra ele uma vez ter que respeitar seus anos de experiências. Até aí, tudo bem, sempre procurei respeitar sua opinião, assim como orientei meus filhos e esposo a fazerem o mesmo. Em virtude disso, nós tivemos uma vida bem limitada em ações corriqueiras em nossa própria casa. Uma vez que não podíamos receber amigos, ver teve até mais tarde, mudar um móvel de lugar... Tudo isso era motivo de aborrecimento para meu pai e haja reclamações. Este nunca permitiu que nós cuidássemos dele. Pois não precisava, era autossuficiente, ou quem sabe, ignorante demais.
Mas, nada como um dia atrás do outro para a gente perceber o quanto somos pequenos diante da grandeza divina. Meu pai, um senhor, aparentemente forte, disposto, capaz de se cuidar sozinho, com seus 78 anos, andava de ônibus para visitar o túmulo da amada – falecida – de repente sofre um AVC, fica com um lado paralisado, sob os cuidados dos familiares para qualquer ação. Há vinte e cindo dias ele se encontra neste estado. Felizmente, está sendo cuidado por especialistas, apresentou um quadro estável, mas agora está na UTI em estado grave.
Enquanto isso, a família que ele fez sofrer tanto, especialmente os netos, que ficaram com alguns traumas em virtude de seu comportamento agressivo estão cuidando dele como se cuida de um bebê. É importante ressaltar que, este ano, descobri, através de um psicanalista, que este comportamento agressivo dele é consequência de um distúrbio mental denominado de bipolaridade. E, como ele tinha aversão aos cuidados médicos, nunca se cuidou.
Diante de tudo percebemos a fragilidade da vida. E mesmo que ele nunca leia este texto, quero que saiba que o nosso desejo era ter cuidado dele, quando estava saudável, da melhor maneira possível, mas esse não nos permitiu, pois, ao nosso ver, ele se sentia na obrigação de cuidar de nós. O seu jeito de cuidar era de modo grosseiro, a única maneira que ele sabia demonstrar o seu AMOR por nós.
Então Sr. Antonio Alves Feitosa – homem do campo, honesto, trabalhador, responsável, humano... - mesmo o momento não sendo o melhor, sua família que O AMA: Fátima Feitosa, Fernandes Oliveira, Louiseane Feitosa e Fernandes Filho está cuidado do senhor do jeito que acreditamos ser o certo.
 
Foi com você que aprendi grandes valores morais, os quais passei para meus filhos. Portanto, fique em paz, nas mãos de Deus. Você será sempre lembrado pelas coisas boas que fez.
 
 

sexta-feira, 9 de março de 2012

ATÉ QUANDO?





Mais um ano iniciou-se na rede estadual de ensino, no dia 01 de março do ano em curso. E esperançosa como sou, em casa ficava pensando na carinha nova dos alunos, nos projetos a serem desenvolvidos, entre outros. Recusando-me a pensar na falta de professores que enfrentamos em 2011, durante o ano todo. Até porque, nas reuniões que participei, ouvi que este problema não teríamos este ano, uma vez que houve concurso público exatamente para suprir as necessidades das escolas.

Entretanto, como Coordenadora Pedagógica de uma escola estadual, estou acompanhando a elaboração dos horários de aulas, nos três turnos, e constato que, em todos os turnos faltam professores. Daí a grande preocupação: como podemos melhorar a qualidade do ensino em nossas escolas públicas, se os alunos podem passar o ano inteiro sem professores de algumas disciplinas, como aconteceu no ano anterior? E, conforme depoimentos de supervisores pedagógicos, no final do ano de 2011 eles foram fazer provas com os alunos para tapar os buracos das notas nas disciplinas onde não viram nenhum conteúdo. Incrível, mas parece mentira!

É triste, mas é verdade. Não entendo como as autoridades responsáveis pelo sistema de ensino – estadual, neste caso - deixam isso acontecer. Como um aluno da 3ª série do Ensino Médio passa num vestibular se deixou de vê conteúdos imprescindíveis à sua vida acadêmica? Se estes alunos representam o futuro do nosso País, que futuro teremos?

Realmente é muito preocupante esta situação, além de outras que nós, como educadores, ficamos de mãos atadas por não ser de nossa competência resolvê-la. E, como brasileiros que somos, tentamos dar um jeitinho aqui, outro ali. Porém para quem é competente e tem responsabilidade com seus alunos e o futuro do País sofre com essas irregularidades.

Eu, como pedagoga, tenho o maior orgulho em ver o aluno aprender, a desenvolver sua consciência crítica, tornar-se cidadão, consequentemente descobrir sua missão no mundo. É maravilhoso receber um abraço e um beijo carinhoso de um aluno que percebe o nosso esforço para ajudá-lo a crescer. Mais satisfação sinto, quando eles concluem o Ensino Médio e retornam à escola para nos visitar. E quando dizem que passaram no vestibular – cujo índice é muito pequeno – a alegria é estonteante. É isso que gratifica o nosso trabalho.

Bom, diante do exposto, espero sinceramente que, como o ano letivo está apenas começando, professores novos possam ir suprir as necessidades das escolas estaduais para que possamos realizar um trabalho com qualidade, condizente com as necessidades dos alunos.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ESCREVER PARA VIVER





Aos olhos de todos, João era um ser comum; jovem simples de família modesta, que com muitos sacrifícios, conseguiu galgar seus objetivos: estudar e conquistar um emprego digno. Bom moço, pensava em ajudar aos seus pais, que tinham por ele tanto zelo.

A mão de Deus acariciou os objetivos de João e seus sonhos foram realizados. Conseguiu formar-se, tornando-se professor de Língua Portuguesa e, para sua grande alegria, especializou-se em sua área. Profissional dedicado, sempre dando o melhor de si para contribuir com sua parcela no mundo, que parecia ser habitado por seres bem diferentes de João. Muitas vezes ele se sentia indo em direção contrária a maioria das pessoas com quem cruzava.

Mesmo assim, ele continuava firme em seus propósitos.

João possuía uma mente extremamente inquieta que o perturbava. A palavra paz, às vezes, encontrava sinônimo no dicionário de suas memórias. De resto, só inquietude! Uma busca constante, por algo ainda indeterminado por ele. Seria loucura o que adormecia e acordava em seus pensamentos? Quanta coisa gostaria de desvendar! Deveria ser um bálsamo despertar numa nuvem branquinha, mesmo após o nascer do sol. Mas, a turbulência era sua companheira constante, apenas cochilava e logo despertava num sobressalto.

Seus pensamentos muitas vezes seguiam, a passos largos, por caminhos muitos sinuosos, o que deixava a cabeça de João envolta em redemoinhos. Parecia loucura, já que se abria um vácuo entre ele e o mundo; noutras, se distanciava dele mesmo, como se a sua alma abandonasse o seu corpo. E fora de seu corpo ficava a observá-lo com certa estranheza. Como isso doía profundamente em seu coração, chegando a ficar tão amassado, que nem conseguia sangrar para aliviar a sua dor.

E, foi assim, que João começou a tingir folhas virgens com a tinta de seu coração. Quem sabe escrevendo ele passaria a compreender o seu tortuoso interior? Sua alma se derramava cada vez que corria o lápis sobre o papel. Ela parecia uma fonte inesgotável, quanto mais escrevia mais se enchia de palavras que pulavam desordenadas em busca de um lugar para repousar.

Para João, este foi o refúgio que encontrou para tentar viver, mesmo não encontrando as respostas para as indagações coladas às paredes de sua mente.