OS
(DES)ENCONTROS DA VIDA
A vida é arteira, anda por caminhos
sinuosos, ora faz encaixes, noutras desencaixes. E segue, emaranhando sua teia
estendida da vivência. Nisto, os anos esvoaçam perfumados, mas nem sempre
floridos. O fato é que se estendem, trazendo experiências, as quais regam nossa
espiritualidade.
É neste entremeio, que as relações
humanas acontecem. Muitas vezes não polvilhadas de afeto, como se deseja. Mas
caminham lado a lado, sem mãos dadas.
Sou filha única, última vinga de uma
sequência de três anjinhos que foram para o céu, vitimados pela ignorância de
meus pais, analfabetos, também vítimas de um sistema social desumano que
perdura, até os dias de hoje, onde impera o ter, o ser é descartável. Portanto,
nascer pobre, no Brasil, é um pecado, cuja paga é o sofrimento no berço
esplêndido da falta de conhecimento dos seus direitos. Muito embora, de quatro
em quatro anos, os pobres são beijados, abraçados, vistos como gente importante
– que é o que realmente são – pelos políticos, descarados que objetivam
ludibriá-los na conquista de seu voto. E o pior, muitos ainda se deixam levar,
uma vez que são ingênuos demais, e chegam até a se sentirem importantes, no
período eleitoreiro, por ter sido visitado por uma autoridade. Pobre
humanidade, miseráveis seres enganadores, os políticos. Entretanto, não
generalizo, no meio de tantos corruptos, há uma meia dúzia que honra o seu
cargo público, trabalhando em prol da população, que é para isso que os
elegemos.
Mas o fato é que quero espremer, no
papel, a questão afetiva nas relações familiares, que, por natureza, deveria
unir, às vezes distancia por inúmeras razões: conflito de gerações, ignorância,
doenças...
Neste aspecto tenho experiência de
sobra, muito embora preferisse não ter. Mas, na vida, aprendi que nada acontece
como, nem quando eu quero. Tudo é como e no tempo de Deus! Interessante é que,
durante muito tempo, procurei respostas para minhas inquietações na igreja.
Nada encontrei. Mas, hoje, percebo que espiritualidade é algo muito particular:
está em você.
Mas voltando a questão da
afetividade, que é o foco deste texto, conforme citado acima, sou filha única,
minha mãe faleceu muito jovem – aos 42 anos – e ficamos eu e meu pai. Logo em
seguida, casei, tive dois filhos, hoje uma com 24 e outro com 21 anos. Enfim,
durante a vida toda moro com meu pai, mais precisamente, há 46 anos. Sendo
minha família composta por meu esposo, filhos e ele.
Não tem sido fácil essa convivência,
pois o meu pai sempre foi muito arredio, além de ser o sabe tudo. E eu, filha
mais nova, não podia ir contra ele uma vez ter que respeitar seus anos de
experiências. Até aí, tudo bem, sempre procurei respeitar sua opinião, assim
como orientei meus filhos e esposo a fazerem o mesmo. Em virtude disso, nós
tivemos uma vida bem limitada em ações corriqueiras em nossa própria casa. Uma
vez que não podíamos receber amigos, ver teve até mais tarde, mudar um móvel de
lugar... Tudo isso era motivo de aborrecimento para meu pai e haja reclamações.
Este nunca permitiu que nós cuidássemos dele. Pois não precisava, era
autossuficiente, ou quem sabe, ignorante demais.
Mas, nada como um dia atrás do outro
para a gente perceber o quanto somos pequenos diante da grandeza divina. Meu
pai, um senhor, aparentemente forte, disposto, capaz de se cuidar sozinho, com
seus 78 anos, andava de ônibus para visitar o túmulo da amada – falecida – de
repente sofre um AVC, fica com um lado paralisado, sob os cuidados dos
familiares para qualquer ação. Há vinte e cindo dias ele se encontra neste
estado. Felizmente, está sendo cuidado por especialistas, apresentou um quadro
estável, mas agora está na UTI em estado grave.
Enquanto isso, a família que ele fez
sofrer tanto, especialmente os netos, que ficaram com alguns traumas em virtude
de seu comportamento agressivo estão cuidando dele como se cuida de um bebê. É
importante ressaltar que, este ano, descobri, através de um psicanalista, que
este comportamento agressivo dele é consequência de um distúrbio mental
denominado de bipolaridade. E, como ele tinha aversão aos cuidados médicos,
nunca se cuidou.
Diante de tudo percebemos a
fragilidade da vida. E mesmo que ele nunca leia este texto, quero que saiba que
o nosso desejo era ter cuidado dele, quando estava saudável, da melhor maneira
possível, mas esse não nos permitiu, pois, ao nosso ver, ele se sentia na
obrigação de cuidar de nós. O seu jeito de cuidar era de modo grosseiro, a
única maneira que ele sabia demonstrar o seu AMOR por nós.
Então Sr. Antonio Alves Feitosa –
homem do campo, honesto, trabalhador, responsável, humano... - mesmo o momento
não sendo o melhor, sua família que O AMA: Fátima Feitosa, Fernandes Oliveira,
Louiseane Feitosa e Fernandes Filho está cuidado do senhor do jeito que
acreditamos ser o certo.
Foi com você que aprendi grandes
valores morais, os quais passei para meus filhos. Portanto, fique em paz, nas
mãos de Deus. Você será sempre lembrado pelas coisas boas que fez.
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