Sou pedagoga e iniciei minha carreira profissional numa época em que os diretores das escolas públicas, brasileiras, eram escolhidos pelo seu QI (Quem Indica – os políticos). E, isso me incomodava muito porque, gestão não é tarefa fácil, requer muito conhecimento na área de humanas e na área das exatas também. Apesar de eu ser muito ruim na área das exatas, acredito ser mais fácil trabalhar do que nas humanas. Uma vez, que vamos lidar com subjetividades pessoais, interesses particulares, mau incompreensão de funções e por aí vai.
Entretanto, essa época passou e me trouxe alegrias em saber que a comunidade escolar, agora, é quem escolhe o seu próprio gestor. Bom, de imediato pensei: a politicagem vai acabar, só pessoas comprometidas, com a educação, vão gerir nossas escolas. Ledo engano, pois percebo claramente, hoje, que pouco mudou. Os candidatos a gestores fazem dentro, da própria escola, a politicagem que sempre fui contra. Antes, esta acontecia fora dos muros escolares, agora dentro.
E, o pior de tudo é que educador e educando são todos envolvidos diretamente nessa sujeira de jogos de interesses. E nós educadores somos exemplos...
Então percebo que nosso povo ainda não está preparado para ser livre, apesar de se pregar tanto à liberdade de escolha, está ainda esta muito arraigada aos parâmetros do descobrimento do Brasil. Somos frutos de mandantes e mandados. E, por mais que se fale, em democracia, a consciência do povo está muito longe de compreender realmente o sentido dessa palavra e pô-la, efetivamente, em prática. É claro que tenho o direito de votar em quem eu quiser – ato democrático – mas de que me serve esse direito se a minha consciência ainda está atrofiada? Se não me deram mecanismos, suficientes, para um desprendimento de toda uma cultura que nos acompanha a mais de quinhentos anos.
Aqui entra o papel principal da escola, que é educar para à vida, para à liberdade de pensamento e igualdade social. Um grande e instigante desafio: Mostrar ao aluno o seu valor humano e social na construção de um mundo gerido por uma sociedade capaz de assumir os seus próprios atos. Seguindo sempre, de cabeça erguida, no desenvolvimento de projetos individuais e coletivos. O aluno precisa, se ver capaz e responsável, pelo que acontece em seu entorno através de atividades que este possa ser agente ativo, como em desenvolvimentos de projetos que venham beneficiar à comunidade onde se encontra a sua escola, para depois, ir mais além.
A escola precisa adequar-se às novas necessidades sociais e, pará de agir apenas com transmissão de conhecimentos prontos, conforme funcionou, na era da industrialização. Isto porque – supunha-se – que o aluno, apenas precisava de conhecimentos técnicos, para manejar máquinas. Cada um em sua tarefa específica, extremamente limitado. Hoje, além do técnico, ele precisa ser trabalhado o lado humano. Desenvolver suas potencialidades gerais para atuar, com competência, no mundo globalizado. Por isso, o que deve mover o ensino hoje são as interrogações e não exclamações. Quanto mais dúvidas forem plantadas na cabeça, do aluno, mais este vai pesquisar para obter resposta e, assim, elastecer a sua capacidade de ser pensante e aprendente.
Pelo menos, é isso que penso, e, luto para conseguir nas escolas onde trabalho. Daí, o cuidado na escolha desses gestores cheios de “boas intenções” e poucos conhecimentos. Muitos ainda não acordaram e veem a gestão escolar como um posto para exibirem-se – especialmente a sua incompetência – esquecendo que a humildade é uma virtude que caminha junto à honestidade e respeito a seus pares.
Fui convidada, recente, para concorrer à administração de uma grande escola pública, este ano. Já fui diretora, por onze anos, na rede particular. Foi uma experiência muito boa, mas confesso que gerir uma escola pública, me causa arrepios por causa dos vícios arraigados nos setores públicos. Como exemplo: se é público tem que ser lento, funcionar mal e, eu não comungo com este pensar retrógrado. Sei perfeitamente que muitos colegas educadores já deram grandes passos, para uma melhora educacional significativa, mas é um processo lento e muito ainda temos que fazer para alcançarmos o patamar que nossos alunos e sociedade merecem. Sigo procurando dar o melhor de mim nesta luta constante.
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