Hoje reconheço meus defeitos de fabricação. Mas antes virava uma fera se alguém tivesse o atrevimento de me apontá-los. Aliás, não são de fabricação, mas de manutenção.
Sou filha única, de família simples, mas mimada de dar dó. Pelos meus pais, tios, avós. Eles não sabiam o mal que estavam me fazendo. São frutos da ignorância peculiar a tantos brasileiros, especialmente aos nordestinos, que para o resto do Brasil, são fraquinhos, pouco inteligentes por sofrerem tanto com secas e outros males. Desconsiderem esse pensar! Aqui no meu nordeste gente, tem tanta coisa linda e boa que a menina dos olhos aflora. Se eu for descrever belezas, inteligências nordestinas... não há papel para tanto. Mas, se avexe não, venha conhecer! Ôxente, você vai ficar tão encantado que duvido querer voltar. Agora, precisa saber se nós aceitamos você ficar. Brincadeirinha! Se abanque. A casa é sua. O acolhimento nordestino é tão quente, quanto às areias que calçam a imensidão do mar Atlântico.
Mas voltando ao assunto, na vida tudo se aprende, basta nos dispormos a querer aprender. Primeira coisa a ser aprendida: se você não gostar de algo e, de repente, precisar fazer aprenda a gostar. Abra seu melhor sorriso, ponha uma pitada de amor, cante sua canção preferida e pluft, tudo fica ótimo. É ruim para a alma e coração lutar contra as intempéries da vida.
Como falei no início deste texto que fui muito mimada, acreditei, por um bom tempo, que o mundo era só meu. Portanto, tinha que girar apenas no meu sentido. Quantas bordoadas levei! Tenho marcas na pele até hoje. Com o amadurecimento a gente vai percebendo que as coisas não são como pensamos ou desejamos, mas continuamos na teima. Até que um belo dia a casa cai.
A minha caiu completa!
Com meu nariz empinado fazia questão de dizer que jamais seria uma dona de casa, mesmo casada e com filhos. O fato é que sempre tive alguém para tomar conta de nós. Já que a moça aqui só sabia ser chefe lá fora. A casa ficava por conta das pessoas boas que Deus botou em meu caminho. Cozinhar, outra coisa terrível. Quebrar minhas unhas fazendo tarefas domésticas. Isso não!
Mas numa manhã quente bem nordestina recebo a notícia que a partir daquele momento a casa e todas as suas tarefas ficavam sob minha responsabilidade. Sumiu o chão! Passei uma semana desnorteada. Briguei, bati porta. E fiquei no dilema: arranjar uma nova secretária – ter que ensinar tudo de novo - do lar ou dividir as tarefas com a família. Mas como? Se ninguém sabia fazer nada e nem queria aprender.
Enfim, as coisas foram se ajeitando, os cacos sendo colados. E, há quase dois meses estou além de trabalhar fora, secretária do lar. O que para minha surpresa, está até me fazendo bem. Nossa família está mais unida – nunca vivemos em pé de guerra -, mas éramos mais isolados por termos tudo nas mãos. E por falar em mãos, hoje queimei a minha mão direita com o vapor da panela. E nem por isso me fez deixar de escrever. Então, percebo que tudo na vida é questão de adaptação e do nosso querer.
O bom é que tinha acabado de saber do meu ortopedista que estava com lordose, exatamente no momento que a secretária se foi. Logo passei por três mudanças na vida: assumir a casa, deixar de usar salto alto e parar de malhar por ordens médicas. Contudo, isso só me veio mostrar as possibilidades da vida. Estou fazendo fisioterapia, já fui liberada – pelo médico – para usar o salto e voltar a malhar. E, quanto aos serviços domésticos estou perto de me tornar profissional.
Mas hoje, depois de comprar roupa nova e voltar pra academia morta de feliz, chego lá e as portas estavam fechadas. Ainda bem que só por hoje. Segunda tudo volta ao normal. E a minha vida segue também normal e tranqüila. Graças a Deus! Pois viver feliz só depende de mim.
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